Conta-se que isto ocorreu no pantanal da Nhecolandia, no baixo Rio Negro, pra frente da barra mansa, em um retiro perdido naquele sertão de “meu Deus”, alias o mais bonito desses sertões perdidos.
Corria o mês de julho, mês seco, árido, a lida do gado já havia acabado, era hora de arrumar as cercas, mangas e a curralama, deixar tudo pronto para enfrentar a próxima estação das águas. O peão pantaneiro ia arrumar um mangueiro a uns 300, 400 metros de casa, Antes de clarear comeu o quebra-torto (tira jejum) e pediu para a mulher mandar o café da manhã e o almoço para adiantar o serviço, que era muito. O dia corria normal lá pelas sete sua filha de 5 anos chegou com seu café: café, leite, pão, um assado e farofa pra dar sustança e água fresca pro tereré. Brincou um pouco com a menina, uma linda pantaneirinha dos olhos escuros, esperta que ela só, nascida e criada naquelas bandas e pediu:- Me traga o almoço mais tarde, la pelas onze horas.
O dia correu, o peão terminou o serviço e chegou em casa no meio da tarde e disse para mulher:- Você esqueceu de me mandar o almoço, estou vazado de fome, e a mulher dando um pulo de susto respondeu que tinha mandado a menina as onze horas como ele havia pedido, na primeira hora pensaram que a menina havia se distraído e estaria pescando no rio ali perto, coisa que ela adorava fazer. O pai saiu a cavalo enquanto a mãe andava aquelas beiradas de mato ali por perto, o dia foi terminando e nada da menina aparecer. Com o coração apertado, aquela noite o pai pediu socorro a sede por radio. No dia seguinte, conforme a tradição pantaneira manda, quando alguém precisa de socorro todos ajudam, sem cobrar nada, sem ninguém pedir e por quanto tempo seja necessário, começou a chegar ajuda, peões das fazendas vizinhas que haviam ouvido o pedido por radio apareciam de todos os lados, em dois dias eram uns quarenta ou cinquenta, com peões vindos de até 2 marchas de distancia (40 a 45 km). Formaram grupos de 10 e bateram toda aquela região, metro a metro, palmo a palmo. Onça não era, não tinha cheiro de onça, não tinha marcas, o rasto da pantaneirinha sumia no meio do carreador, do nada. Por uma semana bateram aquele pantanal a fundo, baia por baia, croa por croa, arvore por arvore, córregos, rios e todo lugar que pudesse estar uma criança ou mesmo um corpo. Conforme iam passando os dias o desanimo foi tomando conta daqueles homens, já com 6 ou 7 dias ninguém tinha mais esperança de encontrar a menina viva, mas ao menos o corpinho para os bichos não comerem, mas nem isso, nada, nenhum sinal por menor que fosse. O casal dando a filha como morta agradeceu o trabalho de todos.
E a vida seguiu, os pais se esforçando para esquecer e os meses foram passando. Já próximo do natal o peão chega em casa e encontra a mulher eufórica, em uma alegria só:- nossa filha esta viva, eu a vi na beira do carreador e quando tentei me aproximar ela sumiu no mato, mas era ela eu tenho a certeza de mãe que era ela. Ele pensou: tanta saudade que tá vendo coisas. Passado alguns dias ele montado a cavalo viu um criança brincando, ao longe. Como uma criança, aqui? Nesse sertão só? Tentou se aproximar e a criança correu para o mato e sumiu. Inconformado montou campana por ali e dois ou três dias depois conseguiu avistar a menina de perto, e sim era sua filha como sua mulher havia dito, mas ela escapou por aqueles matos que nem ele mateiro experiente encontrou. A noticia que menina esta viva correu longe e novamente aqueles bravos peões se reuniram para nova busca, frutífera pois no terceiro dia encontraram a pantaneirinha perdida, perfeita, saudável e assustada como um bicho. Estava limpa, com suas roupas em farrapos, bem nutrida, os cabelos em lindas e articuladas tranças, mas não falava, talvez pelo tempo ou pelo susto mas não conversava. Passaram alguns dias e menina se acostumou a casa, aos pais, ao carinho da mãe e aos poucos voltou a conversar. Quando já conversava tudo (adorava falar) o pai perguntou aonde ela ficou, quem cuidou dela e quem havia feito aquelas tranças, ela respondeu: Eu esta indo e me distrai e acabei me perdendo, fiquei com muito medo, ai apareceu um senhor barbudo, pequenino, que me deu abrigo e comida e eu fui ficando lá. O pai intrigado perguntou:- E aonde mora esse senhor? Ela respondeu eles moram nas matas. Eles? Exclamou o pai, ela disse:- sim pai eles são bastante, crianças, moços, de todo jeito. O pai incrédulo e querendo descobrir o mistério do sumiço da filha perguntou: Como eles são? E a pantaneirinha respondeu:- Pai são iguais a gente, só que pequenos, e rindo ela completou só tem uma coisa engraçada, só eu que tinha duas pernas.
Créditos de: Claudio Manoel Carvalho Costa
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